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ENTREVISTA: Diretor de Investimentos fala sobre impactos da pandemia

30 de abril de 2020

ENTREVISTA: Diretor de Investimentos fala sobre impactos da pandemia

30 de abril de 2020
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ENTREVISTA: Diretor de Investimentos fala sobre impactos da pandemia

29/4/2020

Quando previmos que 2020 seria um ano desafiador, certamente estávamos longe de imaginar um cenário tão singular como o que estamos vivenciando.

A rápida disseminação do novo coronavírus, além das vítimas fatais, tem gerado grandes impactos econômicos no mundo inteiro, o que tem elevado as preocupações dos investidores, como também dos governos.

Mas afinal, como a pandemia do COVID-19 está influenciando o mercado? Quais os impactos sentidos pelos Planos da Capef? Quais as estratégias adotadas pela gestão para superar este momento?

Para responder a essa e outras perguntas, trazemos uma entrevista com o nosso diretor de Administração e Investimentos, Marcos Miranda. Em um papo esclarecedor, o dirigente destacou, dentre vários pontos, a importância de se manter a calma neste momento e lembrou que o foco da Previdência Complementar é o longo prazo.

Confira a seguir!

Quais os principais impactos da pandemia no mercado financeiro?

As medidas necessárias e prudentes ao combate da pandemia (isolamento social) estão no rumo certo. A questão é que a falta de uma clara perspectiva de quando, de fato, poderemos voltar à normalidade, tem feito com que a crise se desloque da economia real para o mercado financeiro. Os mercados passam a precificar uma recessão profunda ou mesmo uma depressão da atividade econômica no curto prazo e uma recuperação ainda incerta no médio prazo.

Eu diria, então, que o principal impacto advém da incerteza. Como o vírus ainda está se espalhando, os efeitos não são tão facilmente mensurados, qualquer tipo de informação faz com que os preços dos ativos negociados no mercado sofram fortes oscilações. As Bolsas de Valores do mundo todo, nesse contexto, têm apresentado oscilações bem superiores ao que seria comum ou razoável para o mercado de renda variável. O que temos observado é uma busca por ativos mais seguros.

A bolsa brasileira caiu 30% em março, colocando-o no ranking como o segundo pior mês da história da nossa bolsa desde o Plano Real, perdendo apenas para agosto de 1998 (crise da Rússia, com queda de -39%).

E a maior aversão a risco também tem impacto na Renda Fixa, pois leva a uma pressão nas taxas de juros de prazos mais longos, que são empurradas para cima, especialmente no caso do Brasil e dos países emergentes em geral, com alta relação Dívida/PIB.

Os fundos imobiliários (FIIs) também estão sendo impactados, uma vez que são considerados possíveis atrasos nos pagamentos de aluguéis, ou concessão de descontos temporários de alguns inquilinos e eventuais aumentos no índice de inadimplência. Fundos imobiliários de shoppings estão dentre aqueles mais afetados devido às medidas de isolamento social.

Como isso se reflete nos planos da Capef?

Os investimentos dos planos BD e CV são resilientes, mas sofrerão com as oscilações bruscas de mercado, no curto prazo.

No acumulado do ano até fevereiro, a rentabilidade do Plano BD foi de 1,33%, superior à meta de 1,24%. Em março, no entanto, o retorno foi de -1,17%, contra uma meta de 0,65%. No ano, o plano acumula 0,15% de retorno, contra uma meta de 1,90%.

Já no Plano CV I, a rentabilidade acumulada até fevereiro foi de -0,26%, contra uma meta de 1,26%. Em março, o Plano rendeu -5,91%, abaixo da meta de 0,50%. Com isso, em 2020 o plano acumula um retorno de - 6,16%, contra uma meta de 1,77%.

A turbulência nas Bolsas de Valores, queda do preço do petróleo, baixo consumo por conta do isolamento social, esse assombro da pandemia do coronavírus se traduz em períodos de rentabilidades negativas, ainda que momentâneas, em especial por conta da queda generalizada das ações, impactando o segmento de renda variável e o movimento do mercado, que também afetou o segmento de fundos imobiliários. Cabe destacar que esses dois segmentos, contudo, obtiveram excelente retorno em 2019. É importante também ressaltar que em razão de não temos necessidade de liquidez imediata, em nenhum dos planos, que nos obrigue a negociar ativos com potenciais perdas, podemos atuar com calma, aproveitando oportunidades, e tão logo se verifique uma melhora das condições gerais da economia e das empresas, a expectativa é de recuperação desses segmentos.

Como os Participantes devem reagir com rentabilidades negativas em meses de instabilidade?

Nós que somos participantes devemos nos manter sempre atentos aos resultados dos nossos planos, bem como com o que está acontecendo na economia, especialmente nesses tempos de pandemia do coronavírus, mas a preocupação não deve nos tirar a tranquilidade.

Não podemos esquecer que o vínculo entre nós, participantes, e nossa previdência complementar é bastante longo, podendo chegar a 50 anos ou mais, considerando o tempo de contribuição e recebimento do benefício. Dessa forma, reconhecendo que o perfil da previdência complementar é de muito longo prazo, precisamos nos manter serenos e entender que movimentos pontuais de curto prazo não devem afetar nosso horizonte de retorno de longo prazo para os planos.

Qual estratégia vem sendo adotada pela gestão dos investimentos nesse momento?

Não é de hoje que as carteiras de investimento dos planos BD e CV I estão diversificadas e com os riscos constantemente monitorados. As políticas de investimento também determinam os limites de alocação dos recursos dos planos por segmento.

A maior parcela de investimentos de ambos os planos é mantida em Renda Fixa, especialmente em Títulos Públicos Federais, ativos de baixo risco, com taxas de juros superiores à taxa de juros atuariais e marcação na curva de juros (onde o valor desses títulos é atualizado diariamente, de acordo com os juros pré-definidos, sem ser impactado pela oscilação de preço que possa ocorrer no mercado). Há também uma parcela menor desses títulos públicos, além de outros títulos privados (Letras Financeiras de bancos de primeira linha) com marcação a mercado (onde a atualização diária do preço do ativo de renda fixa nos permite saber quanto receberíamos naquele momento se realizássemos a venda desses papéis que estão na carteira), que oscilam em função do movimento dos juros no mercado.

As alocações em Renda Variável e Fundos Imobiliários (segmentos mais impactados nessa crise) estão em patamar abaixo do limite máximo de onde poderíamos chegar de acordo com as políticas de investimentos. E, claro, no plano BD - por se tratar de um plano maduro – em uma parcela bem menor que as alocações feitas no plano CV I.
Especificamente no Plano CV I, fizemos uma alocação no segmento de Estruturados (Fundos Multimercados que têm liberdade para investir em diferentes ativos: papéis de renda fixa, ações de empresas, moedas, como o dólar, derivativos e investimento no exterior), cujos resultados têm se mostrado interessantes, mesmo nesses tempos conturbados, principalmente com os retornos na estratégia em câmbio e juros.

A liquidez disponível, em ambos os planos, é adequada e não temos qualquer necessidade de venda de ativos nesse momento, portanto, não estamos sujeitos a qualquer movimentação mandatória, cuja realização (venda/saída de algum papel aos preços atuais de mercado, para satisfazer compromissos) viesse a resultar em perdas concretas. Por isso, temos mantido nossas posições, baseadas nos fundamentos, e até aproveitando oportunidades que estão surgindo em Renda Fixa (com o aumento das taxas de juros) ou Renda Variável e FIIs (com a queda dos preços dos papéis), que nos beneficiarão quando da volta à normalidade.

Como está a questão da liquidez dos planos?

Estamos bem confortáveis em termos de solidez e solvência. Sobre a liquidez, dispomos de recursos suficientes para honrar os nossos compromissos de pagamento de benefícios aos participantes.
Especificamente em relação ao plano BD, temos na nossa Política de Investimentos um comando para mantermos liquidez no curto prazo de, no mínimo, quatro vezes o valor dos desembolsos líquidos mensais (pagamento dos benefícios aos participantes). O nosso índice de liquidez de curto prazo do plano BD está em 1,98, ou seja, superior ao definido na política.

Também, para o plano BD, iniciamos o cálculo de dois outros índices de liquidez utilizados pela PREVIC (Superintendência Nacional de Previdência Complementar), nosso órgão regulador, em seu Relatório de Estabilidade da Previdência Complementar semestral: O ILA (Índice de Liquidez Ampla) e o ILR (Índice de Liquidez Restrita).

O ILA mede a disponibilidade de ativos líquidos, independentemente dos respectivos prazos de vencimento, categoria (renda fixa e/ou ações) ou da volatilidade, para fazer frente às obrigações com pagamentos de benefícios a participantes projetadas para os próximos cinco anos. Quanto maior o ILA, maior é a flexibilidade para a realização de ativos e evitar perdas. No caso do plano BD, estamos com ILA de 2,74, em patamar superior ao definido como desejável pela PREVIC que é de 2,0.

Já o ILR diferencia-se do ILA, na medida em que os recursos considerados para comparação com as obrigações de até cinco anos estão restritos aos fluxos de recebimento de juros e ao resgate do valor principal de renda fixa, além das LFT com qualquer vencimento. Assim, um plano com ILR inferior a um requer análise mais detalhada acerca da necessidade de realização de ativos para fazer frente às suas obrigações de curto prazo. No caso do plano BD, estamos com ILR de 1,37.

Já o Plano CV I, por se tratar de um plano relativamente novo, conta com grande representatividade das contribuições relativas aos seus participantes ativos no seu fluxo de recebimento. O volume de obrigações atual é bem inferior ao de contribuições, o que concede boa situação de liquidez no curto e longo prazo.

Para os Participantes do Plano BD, existe risco do reajuste no final do ano ser inferior à inflação?

Mantendo-se a situação de equilíbrio atuarial do plano, ainda que a meta atuarial não seja alcançada no ano, o reajuste pela integralidade do INPC estará praticamente garantido, pois a rentabilidade acumulada dos investimentos do Plano BD desde 2012 supera em muito a meta atuarial acumulada no período, sendo essa a condição inicial para a concessão do reajuste integral.

Que mensagem você deixaria para os Participantes?

Nos encontramos em tempos difíceis, mas que, felizmente, são transitórios. Ainda que as coisas fiquem ruins por algum tempo, sabemos que isso não durará para sempre.

Em momentos de quedas bruscas, motivadas por uma mudança abrupta de cenário – como o que estamos vivenciando, é fundamental manter a calma. Passada a crise, o normal é se ver uma forte tendência de recuperação. Mesmo não sabendo quanto tempo o mercado levará para uma retomada após a crise atual, quem investe em Previdência tem que ter sempre uma visão de longo prazo, portanto haverá tempo suficiente para uma recuperação.

Essa frase não é de minha autoria, mas acho bem apropriada ao se pensar em estratégias de investimentos de longo prazo: “Estamos em uma maratona e não em uma competição de 100 metros rasos”.

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